domingo, 6 de dezembro de 2009

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
CURDO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA ENSINO
FUNDAMENTAL/SÉRIES INICIAIS
DOCENTE: ROSANE VIEIRA
DISCENTE: DERISVAL SANTOS SOUZA ROCHA.

Cinema, Aspirinas e Urubus

CINEMA, ASPIRINAS E URUBUS. Direção: Marcelo Gomes. Roteiro: Marcelo Gomes, Paulo Caldas e Karim Ainouz. Barasil: Inovasion, 2005, 90 min.

Cinema, aspirinas e urubus, é um filme de Marcelo Gomes baseado em relatos da vida do seu tio, ele escreveu o roteiro de um belo road movie, ambientado no sertão brasileiro dos anos 40. A mídia é um dos focos mais nítidos apresentados no filme, pois trazendo para a atualidade ela exerce uma brutal ditadura midiática, manipulando informações e deturpando comportamentos.
A partir dessa ordem de coisas, este trabalho toma como objeto de estudo – o filme, Cinema, Aspirinas e Urubus, que conta a historia de Johann (Peter Ketnath), alemão que fugiu do pais de origem no auges da 2ª Guerra mundial e chega ao Brasil, onde percorre regiões do nordeste vendendo aspirinas.
Durante a viagem, Johann encontra Ranulpho (João Miguel) representante dos insatisfeitos com a vida; o brasileiro se junta ao alemão, na esperança de esbarrar em uma vida melhor, e os dois dividem projeções, fecham acordos com desconhecidos para a venda de mais aspirinas e reclamam da vida que levam: para Johann, nada é pior que a guerra; para Ranulpho, nada é pior que o sertão.
O sucesso da empreitada do alemão esta no modo como ele fez a publicidade do produto: projetando propagandas no meio de vilarejos, ao ar livre, e encantando os moradores, que, nunca antes tendo visto imagens em movimento, acreditam se tratar de um medicamento de outro mundo.
O filme inicia a narrativa em diálogo com a tradicional representação sertaneja na literatura brasileira, observando as recentes produções cinematográficas nacionais que recorrem ao nordeste como tema, podendo identificar uma série de repetições de preconceitos, de imagens que repousam numa imanência peculiar: o Nordeste é comumente tomado como um lugar único, de uma identidade homogenia, ignorando assim, as particularidades culturais existentes entre os nove estados que compõem a região.
Resta pouco espaço para outra visão que não seja por meio da miséria de pessoas de rostos e corpos franzinos com pele mais rachada do que a terra pelo sol. A propaganda vai além do universo conceitual dos signos, isto é, a linguagem da publicidade que passa a ser um espaço de construção de ideologias.
Apresentando a influência que a mídia exerce, mostrando a aspirina naquele lugarejo nordestino, onde quase não se tinham meios para adquirir informação, seduzindo assim, através desse poder de imagens e tradução. Convence a população daquele lugar a partir dos recursos mais avançados da época no caso o cinema, atraindo o público a realizar compras sem nenhuma necessidade antes demonstrada.
A propaganda que aparece através do cinema no filme tem como objetivo atrair o povo a comprar as tais famosas aspirinas qual é apresentada de formas milagrosa a curar os males de um povo tão sofrido, que vivem alem da linha da dor ou do prazer.
Muitos, depois de assistir as seções de cinema do alemão, compram apenas por manutenção daquele beneficio, e pedem mais filme; a noção de arte como cura física, a idéia do cinema como intervenção benéfica na carne, suprindo a fome e a dor, o sofrimento e a lastima, encontram respaldo na necessidade humana.
A valorização do discurso de cada região uma do nordeste vista de um ângulo formado de preconceitos como é citado no filme “comedores de calango”, e outro da Alemanha de onde “caiam as bombas do céu”. Remete-se nesse primeiro momento no discurso dos dois personagens com diferenças de ideologia de vida, para qual utilizam o meio de comunicação possível e disponível.
Também é notória a diferença do discurso entre ambos, enquanto um achava o nordeste o fim do mundo, feio, cheio de miséria sem possibilidades de sobrevivência, o outro encontrava o lugar de refugio para trabalhar e sobreviver despertando ainda admiração no sentido de como aquele povo conseguia sobreviver a partir de ideais e técnicas desenvolvidas partindo de necessidades próprias.
Cinema, aspirinas e urubus têm a qualidade rara do domínio técnico da linguagem que não chama a atenção para si, mas sim que está lá a serviço do que se narra. Assim é sua fotografia, sua montagem, sua direção de arte e figurinos: precisos e até virtuosos, mas nunca autoconscientes disso, porque servem aos personagens, ao filme. Sem a natural resolução em imagens e sons, poderia ser apenas mais uma bela “história filmada”.
Esse é um filme que tenho um imenso prazer em indicá-lo para meus amigos professor, pois além dos costumes,valores e os aspectos geográficos e culturais do nordeste podemos estar trabalhando também sobre a influência da mídia.
O filme nos remete a refletir sobre a influência negativa e do encantamento que a mídia nos traz. Pois toda mídia se torna um grande mercado repleto de inovações, quando na verdade deveria preocupar-se com a qualidade do conteúdo por ela apresentado, já que é a maior fonte de informação e entretenimento que a população possui, pois:

As políticas publicas de inovações tecnológicas e/ou distribuição do saber socialmente construído pela ampliação das tecnologias são as de maior impacto social devido a complexidade que lhes são inerentes, beneficiando alguns segmentos sociais em detrimento de outros. (BONETI, 2006, p. 79).


A mídia nunca foi tão poderosa no mundo e no Brasil como agora, em decorrência dos avanços tecnológicos nos ramos das comunicações e das telecomunicações, no intenso processo de concentração do setor nas últimas décadas e da criminosa desregulamentação do mercado que a deixou livre de qualquer controle público.


Referências.

BONETE, Lindomar Wessler. Políticas por dentro. Ijuí: Unijuí, 2006.

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